Anderson Mendes
Os bastidores não tão glamorosos das redes sociais

Guerra na Ucrânia e look do dia... Dois temas completamente distintos, mas que atualmente podem ser encontrados em uma mesma conta do seu criador de conteúdo lá do Instagram, um em sequência do outro, separados apenas por um toque na tela que leva ao “story” seguinte. Nos bastidores, falar de assuntos tão distantes de suas áreas de conhecimento nem sempre é uma boa escolha dos influenciadores digitais.
Já falamos por aqui que, segundo o júri da internet, não se posicionar também é um posicionamento. E é justamente essa lógica que faz com que os usuários das redes sociais cobrem, não só de empresas, mas também de influenciadores digitais de diversos nichos, por posicionamentos sobre questões urgentes, polêmicas, ou que julguem relevantes.
Para manter seu público engajado e, com sorte, conquistar mais seguidores, muitos desses criadores de conteúdo decidem ceder à pressão e falar sobre temas que não fazem parte do seu segmento, como a pandemia da Covid-19 e os conflitos que estão ocorrendo na Ucrânia - dois assuntos extremamente delicados e complexos que, idealmente, só especialistas/estudiosos deveriam oferecer orientações.
Mas optar por esse caminho pode causar impactos negativos tanto para o criador de conteúdo, quanto para o seu respectivo público. Isso porque, ao falar para milhões de pessoas sobre um assunto que afeta toda a população mundial sem conhecimento aprofundado, há o risco de gerar desinformação ou superficialidade (prato da casa das redes sociais). Além disso, a criação que foge do segmento de conhecimento que o influenciador escolheu e não está alinhada à sua essência pode fazer com que ele se sinta menos satisfeito ao produzir, visando apenas a “surfar a onda do momento”..
Ainda assim, a criação de conteúdo é um trabalho, e paga as contas de muita gente. E é por isso que muitos se rendem a essa pressão, mesmo sabendo dos seus pontos negativos. Mas será que não dá para buscar um equilíbrio?
Esta é a ideia deste post!
Produção desenfreada
Não é possível ter certeza absoluta sobre como os algoritmos das redes sociais funcionam, e esse é, provavelmente, um dos principais motivos que levam os criadores de conteúdo a produzirem cada vez mais, a fim de não perderem engajamento e frequência (em teoria são dois grandes pilares para sobrevivência dos criadores junto às redes sociais). Segundo uma pesquisa feita pela Criadores iD, plataforma da Dia Estúdio, 81% dos criadores sofrem a pressão de produzir novos conteúdos.
E uma coisa leva à outra. Aumentar o número de posts semanais e eventualmente não performar não parece ser suficiente, portanto o próximo passo é começar a falar dos assuntos que estão em alta na internet. E, muitas vezes, são os próprios seguidores que cobram por esses posicionamentos. Afinal, o ambiente digital parece exigir que tenhamos opinião sobre tudo, e o mais importante: uma opinião que abrace a expectativa da audiência, porque senão já sabe…
Essas cobranças e preocupações levam a uma produção desenfreada, desconectada daquilo que se costumava fazer por amor. Com o tempo, baixos resultados de acordo com a expectativa criada e a exaustão, o influenciador pode perder o prazer pelo seu trabalho ou, pior ainda, sofrer de burnout. Será então que vale a pena seguir por esse caminho e colocar a saúde mental em risco?
Por mais que muitos pensem que criar conteúdo é um trabalho simples - ou nem sequer considerem um trabalho -, só quem escolheu trabalhar com as redes sociais sabe como pode ser desafiador manter essa “roda girando”. Um vídeo aparentemente simples, publicado com a duração de 10 minutos, pode levar semanas para ser produzido e chegar àquela versão final. Para se ter uma ideia, quando nós criamos a série que fala sobre saúde mental chamada Depressão não é frescura! ela demorou precisamente 1 ano entre a captação e a edição de todo material. Foram apenas 06 episódios de 20 minutos cada.
Estímulo constante da criatividade, pesquisas sobre o que está rolando na internet, negociação de parcerias e publicidades com marcas, definição de calendário de conteúdo, criação de roteiros, gravação e edição dos conteúdos - essas são só algumas das tarefas que fazem parte da rotina de um criador de conteúdo digital, e exigem muita dedicação e energia.
E em meio a tantas tarefas, não podemos esquecer que o trabalho excessivo, mesmo que nunca leve exatamente ao burnout, pode afetar a saúde mental. Uma pesquisa mais recente da Criadores iD revelou que 33% dos criadores de conteúdo entrevistados lidam com algum transtorno psíquico, e desses, 80% sofrem de ansiedade.
Independente do que levou essas pessoas a desenvolverem transtornos - se foi o trabalho na internet ou não -, é importante se atentar aos riscos da produção de conteúdo desenfreada. A autocobrança excessiva e a comparação com o trabalho de outras pessoas pode não ser saudável, e mais atrapalhar do que ajudar.
É importante lembrar que, nas redes sociais, tudo o que enxergamos são recortes, momentos específicos que as pessoas escolhem compartilhar. E nesses recortes, muitas vezes o que vemos é uma proatividade constante, que pode afetar a nossa autoestima. Mas, na vida offline, sabemos que ninguém é produtivo o tempo todo, todos temos dias bons e ruins.
Nesses casos, o autoconhecimento é essencial. Através dele, somos capazes de conhecer o nosso próprio ritmo e os nossos limites, que devem ser respeitados para o bem da nossa saúde. Afinal, ninguém quer chegar ao esgotamento, não é mesmo?
Quantidade vs. Qualidade
Se um único vídeo de 10 minutos pode levar semanas para ficar pronto, podemos concluir que criar conteúdo de qualidade leva tempo. E se o tempo dedicado é tão importante, ao aumentar a quantidade de conteúdos e ter que produzi-los em um período mais curto, sem novas pessoas na equipe, fica complicado manter a qualidade, né?
A busca por mais resultados em menos tempo gera um desequilíbrio entre quantidade e qualidade. E em um mar de conteúdos sobre os mesmos assuntos, a qualidade é essencial, e pode ser o que leva alguém a curtir e compartilhar o post do criador X, ao invés do Y. Além disso, quanto maior a qualidade de um conteúdo, maiores são as chances de atrair as marcas, pois você trará riqueza de conteúdo, ou seja = relevância!
Para alguns criadores de conteúdo digital, há ainda o sentimento de incerteza sobre o futuro da profissão. Com os algoritmos mudando o tempo todo, novas tecnologias sendo lançadas e as tendências mudando depressa na internet, o que será que pode acontecer com os influenciadores digitais daqui a alguns anos?
Essa resposta ainda não temos, infelizmente. Mas depois da pandemia da Covid-19, ficou claro que todas as profissões estão sujeitas a riscos. Por esse motivo, o ideal é enfrentar esse medo e buscar o equilíbrio entre qualidade e quantidade na produção de conteúdo, de forma que o criador não se sinta sobrecarregado com a rotina ou infeliz por ter que tratar de temas que não tem nada a ver com ele.
O foco deve ser fazer aquilo em que o coração pede, e que a comunidade de seguidores já conhece e curte. Dedicar um tempo maior para estudar mais sobre o segmento em que já atua e aprimorar as técnicas que a produção de conteúdo exige pode ser muito mais eficiente do que gastar essa energia em uma criação desenfreada e sem propósito.
Dessa forma, o conteúdo do criador mantém a sua autenticidade, qualidade e coerência, garantindo a proteção e relevância da sua marca para os seguidores que se interessam por determinado assunto e para as empresas que buscam influenciadores para publicidades, mas de forma mais saudável.
Nós, do Instituto Gente Feliz, defendemos a sustentabilidade emocional, que consiste em viver uma vida que se sustenta, onde há equilíbrio entre todas as áreas, e acreditamos que é possível ter uma rotina de trabalho saudável, ainda que, muitas vezes, não seja simples.
Se você gostou deste material e se interessa por esse tema, conheça o nosso trabalho e encontre mais conteúdos de humanos à disposição dos humanos!
Nathália Nunes e Anderson Mendes - Humanos a serviço de Humanos!